sábado, 21 de agosto de 2010

Desconfiar pra quê?

Quando dizemos que a vida é uma roda gigante. Sempre algum babaca vem e nos trata como idiotas e frustrados; olham-nos com uma cara de piedade; como se só soubessemos nos comunicar via clichês. Ao aceitar tomar uma cerveja com K., era justamente essa a reação que esperava encontrar. Ela: vaidosa, bonita, com mestrado, um cargo bacana, um namorado executivo, morando numa baita casa e num bairro com toda infraestrutura. Eu, bem... mestrando, revisor de livros, tentando escrever para um blog, tentando escrever um livro, tentando sair de um relacionamento frustrado, tentando sobreviver. Assim, um eterno tentador, mas apenas para a vida, não para as mulheres.
K. antes do convite, me desconvidou. Parecia indecisa. Achei as desculpas dos filhos e da empregada e do namorado e do local e do dia e do horário, sem pé nem cabeça. Por fim, eu que esperava um baita encontro, tive que contentar-me com um café no seu próprio local de trabalho. Uma hora e meia depois, suado por causa do trânsito; nada cheiroso depois de trabalhar dez horas seguidas; até os dentes sujos da hora do almoço havia esquecido. O cara da portaria não o deixava entrar; não sabia seu ramal e nem o setor que ela trabalhava. Esperou por vinte minutos num frio bem paulistano.
Quando ela marcou e desmarcou e marcou novamente, disse que naquele dia não estava vestida adequadamente para fazer companhia para alguém. Poxa, nem se deu ao trabalho de falar "pra você", usou "alguém".

sábado, 7 de agosto de 2010

Lançamento (última revisão feita)


'Sobressalto' conta a história dos cinco dias em que o jovem professor John Grant mergulha em um pesadelo no outback, como é conhecido o semi-deserto australiano. É o último dia de aula, e Grant parte da minúscula Tibonga, onde leciona, para Bundanyabba, uma pequena cidade mineradora. Uma noite em Yabba e então o avião que finalmente o levará para Sidney, para o mar, para a civilização, para seis semanas de férias, para Robyn, uma mulher que inunda seus sonhos. Mas um policial que ele conhece em um bar o leva a um lugar onde se pode comer do melhor filé, e onde se joga o Two-up, uma espécie de cara ou coroa em que duas moedas são lançadas ao mesmo tempo. E o jovem Grant se vê hipnotizado diante do 'Jogo'. Em companhia de sujeitos que não conhece, Grant passa dias em que cura a ressaca de uma bebedeira com mais cerveja, em que sai de carro para caçar cangurus, em que faz coisas que ultrapassam o limite de seu senso moral. Dia a dia, aquele John Grant de Sidney desaparece dando lugar a outro homem, vindo da Austrália profunda a que se entrega, um mundo rude e selvagem esmagado pelo calor e encharcado de suor e cerveja, um mundo em que as pessoas têm jeitos de viver que lhe são complemente estranhos.

Dica em dose dupla









"Diário de um banana", de Jeff Kinney e "O museu do peixe-morto", de Charles D'ambrosio.
Dois livros de uma tacada só. Um leve, como um diário. Perfeito para voltar aos tempos de criança, aos tempos do colégio e tentar se lembrar a que turma você pertencia. Como foram construídas suas amizades e sua maneira de encarar o mundo. Outro, não mais pesado, mas sim mais cru, mais real. A vida nem sempre é fácil, e mesmo assim existe seu lado bom, seu lado humano. Há o trabalho, existe a morte, as relações nem sempre são como imaginamos e nossas amizades do colégio não duram pra vida toda.

Filme para refletir




Simplesmente maravilhoso! Pessoas não são (e não devem ser iguais). Crianças então... Bom para pais, crianças e... professores. O filme mostra o quanto um pouco de atenção e boa vontade muda a vida de alguém. Uma criança com dislexia, uma mãe afetuosa, um pai enérgico, uma escola rígida e um professor (queria ser assim) que vai além das teorias. Respire fundo. Prepare seu coração. Lave sua alma com as lágrimas que com certeza vão escorrer de seus rostos.

Veja o trailer do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=uCm4dEG2Phg&eurl=http%3A%2F%2Fcinemaindiano%2Eblogspot%2Ecom%2F2008%2F06%2Ftaare%2Dzameen%2Dpar%2Ehtml&feature=player_embedded

sábado, 24 de abril de 2010

Sejam bem vindos camaradas!

A literatura africana de língua portuguesa parece ainda distante de nós, ou ao menos restrita aos nomes de sempre como José Eduardo Agualusa e Mia Couto. Ondjaki, angolano de trinta e pouco anos e que agora reside no Brasil, pode ser uma porta de entrada perfeita para essa literatura. Neste "Bom dia Camaradas" somos transportados para uma Luanda (capital de Angola) pós-colonial, que tenta tornar-se moderna e apagar de alguma forma as profundas marcas deixadas pela guerra civil. A história não tem nada de extraordinário, porém a forma como e´contada, repleta de lirismo e coloquialidade, contagia o leitor. O dia a dia narrado por um menino, suas descobertas, a presença dos professores cubanos, dos recém chegados aparelhos eletrônicos, da comida, enfim, a retomada de um sentimento comum a todos - a saudade da infância - carregada de influências brasileiras que vão de Guimarães Rosa a Caetano Veloso, fazem deste livro uma delicia. Porque como diz Luiz Ruffato no comentário sobre a obra "não é o que se conta o que importa, mas como se conta". Portanto, sejam bem vindos camaradas.

Uma breve novela

Após sair batendo a porta, R. desceu as escadas do prédio sem nem ao menos lembrar que estava no décimo segundo andar e que poderia ter usado o elevador.
Sua cabeça doia por demais. Na boca tinha um gosto adistringente. Pela retina via um video clipe infinito. O zunido no ouvido era interminável. Jamais experimentara uma sensação como essa. Adrenalina e ansiedade em doses cavalares. Mas, poucas horas antes estava tão diferente.
São Paulo, 16h45. R. apresenta seu seminário sobre poesia intimista do século XIX. Fala da influência de Schopenhauer e faz pontes de contato com Hegel e o existencialismo de Heidegger. A plateia fica ligada. Parecem estar ali reunidos o supra sumo da futura intelectualidade paulistana.
Neste mesmo instante. Um grupo de amigos reúne-se para tomar uma cerveja. Que se foda poesia intimista e filosofos alemães. Querem ganhar dinheiro vendendo pílulas de um pseudo conhecimento. Coisa típica de uspianos e afins, que disfarçadamente se colocam numa torre de marfim. Levam a ferro e fogo o que disse Sartre: "O inferno são os outros".
Itabuna, 1947. I. nasce com ajuda da parideira-curandeira do vilarejo de Algodão. Era apenas mais uma entre onze filhos de S. e D.
Itaboraí, 1950. I. vem ao mundo com a ajuda de G., que parecia saber e fazer de tudo sem que ninguém pudesse dar um palite se quer.
(continua...)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Beatles - When I'm 64

Entrevista com o escritor português José Saramago

Los Hermanos - Conversa de Botas Batidas

Ponte Hercílio Luz

É sempre muito bacana viajar. O que você consegue aprender é muito mais do que num livro ou num guia de viagem.

Sempre tive vontade de conhecer Florianópolis. Não me arrependi. Pena que seja um exemplo tão singular num país que sucateia suas cidades e consequentemente seus habitantes.

Pensou e escreveu o seguinte:

"Hoje já não tenho como reconhecer se estou certo ou errado. Na verdade, pareço ter duas vidas: uma que não é minha e outra que pertence aos meus. Estranho? Imagine isso dentro do peito e da mente!? Trabalhar, estudar, ser amigo, formar opinião, ser pai, ser amigo, pensar, escrever, torcer, amar, transar. Seria isso realmente o viver? Não sei mesmo. Difícil dizer até que ponto tais coisas podem ser chamadas de vida. Prefiro esperar. Embora, e isso é uma verdade inapelável, precise mandar muitas coisas às favas, somente o fato de pensar na situação, já é uma demonstração de amadurecimento."
Logo após escrever este trecho em um de seus cadernos, F. saiu para mais um dia louco pela megalópole. Reunião na editora; lecionar no cursinho; apresentar seminário sobre António Patrício; ficar preso no trânsito; comer mal; sorrir e agradar mesmo de saco cheio; ser paciente e politicamente correto. E com uma vontade de apertar o botão do foda-se. Mas, quem vai pagar as contas se...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Caminhar

Vamos caminhar. Sim, tentaremos mais uma vez. Jogue essas muletas pra lá. Pare de se escorar nessa mulher perfeita que tenta ser. Não sou certinho e nem pretendo ser. Mas, venha cá. Deixe te mostrar um pouco a vida fora de suas muralhas. Sim, existe droga no mundo. Trombadinhas, prostitutas, crianças de rua, pedintes, filhinhos e filhinhas de papai com seus carros envenenados. Baladas para pobres e ricos. Baladas para evangélicos e ateus. E livros sérios e de autoajuda. E a cidade alaga e também fica bonita quando tem sol. E ela apenas soma, mesmo que o que lhe é demais também faça mal. Tenho filhos e já tive mulheres, muitas. E teve época de não ter nenhuma. Porém, isso, assim, continue. Dê mais um passo. Não se preocupe, muita gente morre, mas muita gente nasce. Bobo né. Embora lógico. Venha, beije. Isso, com a língua, mordisque os lábios. Sugue-os. Sinta a respiração acelerar-se. Bom. Gostosa sensação. Continue. Caminhe mais um pouco. Sim, desabotoe. Solte. Jogue. Liberte-se. Claro, deixe a música de fundo. Tome. Vinho faz bem e liberta os pecados. Veja. Sinta. Deixe subir. Continue. Caminhe para essa direção. Agora está pronta. Apague a luz e...

terça-feira, 9 de março de 2010

Seis

Seis

Não se deve despender energia remoendo picuinhas e colocando minhoca na cabeça. Ainda mais quando esperam tanto de você. Isso sem contar com a própria consciência a respeito da capacidade, do tempo e das coisas que ainda estão por serem feitas. Sei que não é fácil, mas só me toquei disso no dia em que finalmente pude me mudar para a casa que levei seis anos para construir. Não era grande, mas cabia e guardava minha família, meus cd’s e meus livros; e isso me deixava satisfeito.
Como foi lindo ver os sorrisos ao abrirem a porta da sala, observarem o piso dos quartos e o azulejo na cozinha. Ao darem descarga no banheiro pela primeira vez. Nossa primeira noite. Que maravilhoso foi tudo aquilo. Guardando os pratos, copos, lustra móveis, papel higiênico. Pedimos pizza e coca-cola para não ter que fazer comida e também para dar um ar de festa àquela comemoração. É! Não foi fácil. Chegamos a desistir e a retomar novamente o rumo. Desistimos de novo. E de novo retomávamos. Foram seis anos, duas copas do mundo, duas olimpíadas, dois mandatos do mesmo presidente. Compramos coisas que foram para o lixo ou para a casa de algum vizinho ou parente. Atrasamos muitas contas e comer ovo era comum.

Nossa! Que lindo! Nossa casa! Maravilha!
Casa nova, vida nova. Vou fazer caminhada agora. E vou levar meu amor ao teatro. Ela já lê Machado. Falta a Márcia Denser e o Mirisola.

Não se deve desperdiçar energia. Os momentos de euforia devem ser contidos nem que seja com Prozac. Seis anos é muito tempo. Como brigamos!? Porém, chegamos até aqui. Colocamos vidros canelados e pintamos de branco o que era de aço e cinza.
Às vezes dormíamos cedo, só para economizar na conta de luz. O banho deveria ser rápido. Uma vez ao dia.
Comemos ovo de páscoa caseiro e compramos roupas no Brás. Seis anos se passaram e nós conseguimos. Sabemos agora o quanto devemos nos amar. Não vamos perder tempo imaginando bobagens. Não estraguemos tudo. Uma casa. Nossa casa. Pequena e linda. Colocamos um móvel na sala para eu guardar meus livros e meus cd’s. Estou feliz por isso. As crianças nem conseguiam dormir. De um lado uma parede rosa. De outro azul. Veneziana com grades. Painel de fotos ao lado da porta. Eles não conseguiam dormir. Pulavam de uma cama para outra. Eles também chegaram lá. Alcançaram o sonho.
Agora me pergunto por que demorei tanto? Por que mudei de idéia tantas vezes, se a felicidade estava aqui tão perto? Ora, o que são seis anos? Daqui seis anos, seremos seis vezes mais felizes e teremos seis brigas feias, seguidas do mesmo número de reconciliações. Daqui seis anos direi ao meu amor o quanto eu quero envelhecer junto a ela. Mas só daqui a seis anos. Hoje, não. Hoje quero sentir esse amor seis vezes mais novo. Seis anos antes da vontade de envelhecer. Quero apenas um chaveiro para cada um de nós. Um de coração para ela e um de bola de bilhar para mim. Quero dividir a casa, as tarefas e a vida.

A metamorfose

A metamorfose

Nasceu. E em tempos de ditadura, por si só isto já seria motivo de grande alegria e comemoração para seus pais. De início um susto, uma vez que não chorou, mas um tapa do médico aliviou o susto da mãe ao ver seu filho sujo e roxo, abrir a boca e fazer o mundo ouvir que estava por aqui.
Na primeira noite sonhou. Sonhou também na segunda, na terceira e desde então não parou mais. De tanto sentir que o filho sonhava, a mãe também sonhou e quando acordou havia colocado no mundo mais duas meninas.
O primeiro grande sonho de que ele se lembra acabou no Sarriá em 1982. Como tantos outros meninos, queria jogar futebol. Depois, por achar engraçado ouvir com o estetoscópio do médico seu próprio coração, já tinha outra vontade, que acabou no fatídico dia em que um corte no pé o fez sangrar e abandonar a medicina. O tempo passou. Muitas outras vontades vieram: a música, ciência, novamente o futebol, quem sabe o cinema (achava bonita a estátua do cara careca banhado em ouro), mas foi um acidente que o fez mudar por completo o mundo que o cercava. Maldito o dia em que inventou de entrar na biblioteca da escola. Uma cadeira fora do lugar. Um garoto desatento. Um tropeço. A batida da cabeça na estante de livros. Pronto, estava feita a desgraça. O menino que sonhava em ser jogador de futebol, médico ou ganhar o Oscar, ganhou um galo na cabeça e um outro e derradeiro sonho, quando pegou o livro com nome de doença e com o nome de quem o escreveu mais estranho ainda, que falava do cara que virou inseto e fez aquele garoto, trinta anos depois, querer ser escritor.

come back

Um bom filho a casa torna. Voltei para o mundo das letras, de onde, aliás, não poderia ter saído.
Senti muitas saudades do ano de 2009. Foi algo maravilhoso, mas que passou. O ano de 2010 começou a todo vapor. Mestrado na reta final, professor do Objetivo, mais um livro revisado, e a possibilidade de escrever para o jornal Rascunho Literário.
Sim, senti mesmo muitas saudades. De algumas pessoas senti muito mais. Algo que ao consigo nomear e que apenas algumas músicas conseguem ao menos simbolizar.
Postarei um texto mais longo em breve. (hoje à noite!).