domingo, 6 de março de 2011

Tentativas

Ao que parece, estamos sempre diante de uma tentativa: um amor, uma amizade, um jogo, acertar um bom filme, a cerveja na temperatura certa, o tempero...
O fim de um cíclo nos traz um medo: ainda vale a pena tentar? Pergunto-me muito se vale ou não. Quanto tempo gastaria para achar tal resposta? As crinças, uma casa, a partilha, um outra casa: será tempo de descontruir alguns laços, firmar outros e esperar que novos monstrem-se para nós.
Mas a maior das tentativas é não ter medo de ficar sozinho. Não perder o contato com a família, manter-se focado no emprego e no futuro profissional. Acostumar-se com o silêncio de morar só. Não há problemas em cozinhar, ou lavar e passar roupas. O problema agora é que será apenas seu copo, seu prato e seus talheres. Terá que lavar somente sua roupa e passar somente suas camisas, calças, cuecas...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Começando...de novo

É sempre mais duro o recomeço. Uma nova chave numa fechadura desconhecida. Um chuveiro diferente, novos sons e novas cores. A saudade que não desaparece com o sol que chega na manhã seguinte, e na outra e na outra... Nunca fazemos planos com prazo de validade e talvez esteja aí o erro.

sábado, 21 de agosto de 2010

Desconfiar pra quê?

Quando dizemos que a vida é uma roda gigante. Sempre algum babaca vem e nos trata como idiotas e frustrados; olham-nos com uma cara de piedade; como se só soubessemos nos comunicar via clichês. Ao aceitar tomar uma cerveja com K., era justamente essa a reação que esperava encontrar. Ela: vaidosa, bonita, com mestrado, um cargo bacana, um namorado executivo, morando numa baita casa e num bairro com toda infraestrutura. Eu, bem... mestrando, revisor de livros, tentando escrever para um blog, tentando escrever um livro, tentando sair de um relacionamento frustrado, tentando sobreviver. Assim, um eterno tentador, mas apenas para a vida, não para as mulheres.
K. antes do convite, me desconvidou. Parecia indecisa. Achei as desculpas dos filhos e da empregada e do namorado e do local e do dia e do horário, sem pé nem cabeça. Por fim, eu que esperava um baita encontro, tive que contentar-me com um café no seu próprio local de trabalho. Uma hora e meia depois, suado por causa do trânsito; nada cheiroso depois de trabalhar dez horas seguidas; até os dentes sujos da hora do almoço havia esquecido. O cara da portaria não o deixava entrar; não sabia seu ramal e nem o setor que ela trabalhava. Esperou por vinte minutos num frio bem paulistano.
Quando ela marcou e desmarcou e marcou novamente, disse que naquele dia não estava vestida adequadamente para fazer companhia para alguém. Poxa, nem se deu ao trabalho de falar "pra você", usou "alguém".

sábado, 7 de agosto de 2010

Lançamento (última revisão feita)


'Sobressalto' conta a história dos cinco dias em que o jovem professor John Grant mergulha em um pesadelo no outback, como é conhecido o semi-deserto australiano. É o último dia de aula, e Grant parte da minúscula Tibonga, onde leciona, para Bundanyabba, uma pequena cidade mineradora. Uma noite em Yabba e então o avião que finalmente o levará para Sidney, para o mar, para a civilização, para seis semanas de férias, para Robyn, uma mulher que inunda seus sonhos. Mas um policial que ele conhece em um bar o leva a um lugar onde se pode comer do melhor filé, e onde se joga o Two-up, uma espécie de cara ou coroa em que duas moedas são lançadas ao mesmo tempo. E o jovem Grant se vê hipnotizado diante do 'Jogo'. Em companhia de sujeitos que não conhece, Grant passa dias em que cura a ressaca de uma bebedeira com mais cerveja, em que sai de carro para caçar cangurus, em que faz coisas que ultrapassam o limite de seu senso moral. Dia a dia, aquele John Grant de Sidney desaparece dando lugar a outro homem, vindo da Austrália profunda a que se entrega, um mundo rude e selvagem esmagado pelo calor e encharcado de suor e cerveja, um mundo em que as pessoas têm jeitos de viver que lhe são complemente estranhos.

Dica em dose dupla









"Diário de um banana", de Jeff Kinney e "O museu do peixe-morto", de Charles D'ambrosio.
Dois livros de uma tacada só. Um leve, como um diário. Perfeito para voltar aos tempos de criança, aos tempos do colégio e tentar se lembrar a que turma você pertencia. Como foram construídas suas amizades e sua maneira de encarar o mundo. Outro, não mais pesado, mas sim mais cru, mais real. A vida nem sempre é fácil, e mesmo assim existe seu lado bom, seu lado humano. Há o trabalho, existe a morte, as relações nem sempre são como imaginamos e nossas amizades do colégio não duram pra vida toda.

Filme para refletir




Simplesmente maravilhoso! Pessoas não são (e não devem ser iguais). Crianças então... Bom para pais, crianças e... professores. O filme mostra o quanto um pouco de atenção e boa vontade muda a vida de alguém. Uma criança com dislexia, uma mãe afetuosa, um pai enérgico, uma escola rígida e um professor (queria ser assim) que vai além das teorias. Respire fundo. Prepare seu coração. Lave sua alma com as lágrimas que com certeza vão escorrer de seus rostos.

Veja o trailer do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=uCm4dEG2Phg&eurl=http%3A%2F%2Fcinemaindiano%2Eblogspot%2Ecom%2F2008%2F06%2Ftaare%2Dzameen%2Dpar%2Ehtml&feature=player_embedded

sábado, 24 de abril de 2010

Sejam bem vindos camaradas!

A literatura africana de língua portuguesa parece ainda distante de nós, ou ao menos restrita aos nomes de sempre como José Eduardo Agualusa e Mia Couto. Ondjaki, angolano de trinta e pouco anos e que agora reside no Brasil, pode ser uma porta de entrada perfeita para essa literatura. Neste "Bom dia Camaradas" somos transportados para uma Luanda (capital de Angola) pós-colonial, que tenta tornar-se moderna e apagar de alguma forma as profundas marcas deixadas pela guerra civil. A história não tem nada de extraordinário, porém a forma como e´contada, repleta de lirismo e coloquialidade, contagia o leitor. O dia a dia narrado por um menino, suas descobertas, a presença dos professores cubanos, dos recém chegados aparelhos eletrônicos, da comida, enfim, a retomada de um sentimento comum a todos - a saudade da infância - carregada de influências brasileiras que vão de Guimarães Rosa a Caetano Veloso, fazem deste livro uma delicia. Porque como diz Luiz Ruffato no comentário sobre a obra "não é o que se conta o que importa, mas como se conta". Portanto, sejam bem vindos camaradas.